quarta-feira, 24 de março de 2010

Inicialmente apontados como suspeitos, eles teriam sido agredidos por policiais; um dos rapazes morreu




A Justiça de Petrolina vai julgar nesta quinta-feira (25) o caso de dois estudantes que foram espancados porque teriam sido confundidos com assaltantes. A Justiça vai decidir se eles participaram ou não de um assalto a um posto de gasolina, ocorrido no começo do ano. Um dos jovens morreu.

De acordo com o estudante Diego Pereira (foto 3), 19 anos, ele e o amigo José Alex Soares da Silva (foto 1) voltavam de um jogo de futebol na Zona Rural de Petrolina quando pararam num posto de combustível. Ele afirma ainda que foram confundidos com dois assaltantes que tinham roubado um outro posto minutos antes. “Tiraram a minha roupa, bateram na minha cabeça, bateram em mim a noite todinha. Botaram minha cara na privada para eu confessar o crime. Eu dizia ‘Eu não fiz nada, não’, mas continuei apanhando”, relembra o rapaz.

Ele continua: “Chegou a mulher falando ‘Ladrão, ladrão’ e a gente sem reação nenhuma. Veio (sic) mais dois carros, fechou (sic) a gente e começou a espancar. Ela pegou minha bolsa, abriu, mas só tinha uma chuteira dentro e R$ 10,00 para botar gasolina na moto e um saco de macaxeira. Eles espancaram até a polícia chegar. Quando a polícia chegou, eu já tava ruim e Alex apanhou só no rosto, gritando o tempo todo”, diz o sobrevivente.

José Alex foi internado com vários ferimentos no Hospital de Traumas de Petrolina e morreu depois de três dias. Diego Pereira foi encaminhado para a Penitenciária Dr. Edivaldo Gomes, acusado de ter cometido o assalto – ele foi liberado depois de quase 40 dias, por uma liminar concedida pela Justiça.

“Ele chora, quer ir ao cemitério todo dia, diz que ouve os gritos de José Alex. Eu fico no meu quarto, chorando e pedindo a Deus que me dê força, porque eu quero justiça”, diz Ivanilde Pereira, mãe de Diego. Andréa Soares da Silva defende a memória do irmão. “Meu irmão não está vivo mais, mas Diego está e ele vai ter de ser inocentado, e meu irmão também, pelo menos pela parte da Justiça. Porque a gente, que é família, a gente sabe que eles são inocentes”, assegura.

Pelo menos cinco pessoas devem prestar depoimento sobre o caso ao juiz Edilson Moura (foto 2), da Vara Criminal de Petrolina. “Vamos julgar o processo quanto ao assalto ocorrido e se ele foi praticado por Diego e por Alex. Amanhã a sociedade terá a resposta”, diz o magistrado.

REPERCUSSÃO
No Recife, a Corregedoria-geral da Secretaria de Defesa Social vai abrir sindicância para apurar a participação de policiais no crime. O delegado responsável pelas investigações concluiu que os dois jovens eram inocentes e os responsáveis pelo roubo de R$ 413,00 do posto de gasolina não foram encontrados. O inquérito policial encaminhado à Justiça pede o indiciamento de cinco pessoas pelos crimes de homicídio e lesão corporal.

O que a Corregedoria quer com o inquérito policial militar é apurar a denúncia de que três policiais civis teriam torturado Diego Pereira. “Se realmente ocorreu como o fato está se mostrando, é um comportamento incompatível com a instituição à qual eles pertencem”, diz o corregedor-geral adjunto, Cândido Ferraz.

A Secretaria de Justiça e Direitos Humanos informou que o estudante sobrevivente vai ser incluído no Programa de Proteção a Testemunhas. “A proteção à vida se faz necessária nesse caso porque são testemunhas. O sobrevivente, a mãe e as duas testemunhas do fato ocorrido na delegacia de Petrolina efetivamente correm risco de vida. É um modus operandi de quem pratica esse tipo de crime cometer a ameaça para fazer calar a testemunha”, explica o gerente-geral da Secretaria, Paulo Moraes.

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